terça-feira, 7 de agosto de 2012

Ser jornalista ou pensar?

    




    Quando eu fiz a faculdade jornalismo eu sabia que o salário era pouco, que normalmente um jornalista precisa de mais de um emprego pra sobreviver, sabia que não teria final de semana nem feriado, que o meu expediente não encerraria junto com o dos outros e talvez começasse mais cedo, mas o que ninguém me disse é que jornalista não pode pensar. Hã?! Como assim?! Jornalista tem que ser burro? Não, na verdade, para a maior parte das pessoas jornalista tem que ficar em cima do muro, assistir aos maiores absurdos apenas cumprindo o papel de ouvir e escrever ou falar sobre os dois lados da história, sem pensar absolutamente nada e muito menos sem expor a sua própria e exclusiva opinião. 
    Eu tô falando uma grande bobagem?! Não, não estou, acreditem! Estou afirmando isso com conhecimento de causa, depois de pegar o diploma de jornalismo (que não vale mais nada no Brasil) eu passei a ser o jornalismo em pessoa, pelo menos aos olhos dos outros. O que eu falo, o que eu penso, o que eu escrevo, o que eu respiro, o que eu como, o que entra e sai do meu corpo é jornalismo, eu deixei de ser uma cidadã normal que tem uma vida privada. Confesso que foi assustador perceber isso e me fez pensar que talvez eu não tenha nascido pra profissão que eu tanto amo. Tenho muita dificuldade em pensar e não falar (já escrevi isso aqui outras vezes), mas mais do que isso eu tô encontrando MUITA dificuldade em deixar de ser uma pessoa cheia de opinião, que pensa, que acha(mesmo que uma professora da faculdade tenha me ensinado que achar é errado, mas eu continuo achando mesmo sem muita sorte), sou um ser pensante, mesmo que não pareça, e pra um ser assim dói ter que parar de pensar. 
    Dizer que um jornalista não pode se posicionar é como dizer quem um médico não pode sofrer quando perde um ente querido, já que ele precisa aprender a lidar com a morte, na verdade é ridículo. Eu posso fazer jornalismo no jornal aonde eu trabalhar (um dia ainda vou encarar uma redação, é um sonho), na assessoria de imprensa, no rádio, na televisão e até na internet, mas isso não me impede de expor minhas idéias em uma roda de amigos, nas minhas redes sociais pessoais, no meu blog, no meu diário(eu não tenho mais, mas tô pensando seriamente em voltar a escrever e colocar um cadeado pra evitar que meus pensamentos voem por aí e ofendam alguém que seja contrário ao que eu penso), nos meus diálogos comigo mesma (sim eu falo muito sozinha), ou me impede?! Pois é, tenho entendido, ouvido, lido, e estou sendo obrigada a assimilar que as pessoas pensam que eu não posso pensar. Ontem em função de toda essa ladainha mandei meu facebook pro espaço, alguns me julgam muito polêmica e isso tem me dado muita dor de cabeça, tenho apenas twitter, blog, celular, msn e ainda um cérebro, do qual estou com sérias dúvidas se devo me desfazer ou não. Só Deus sabe o quanto dói ter escolhido uma profissão pela maravilha que é ser um formador de opinião e descobrir que eu sou sim formadora de opinião, mas se eu quiser ter emprego e o mínimo de dinheiro tenho que apenas me limitar a transcrever notícias e não pensar nada sobre elas. E assim será, pois eu preciso viver e sobreviver, se é preciso me desfazer do cérebro pra isso, que assim seja. Adeus cérebro querido, quando me aposentar talvez eu te procure de novo no mercado negro e aí o nosso reencontro será emocionante, tenho certeza! 

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