quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

O corte do cordão umbilical

   


   Quando a gente nasce uma das primeiras atitudes do médico é cortar o cordão umbilical e eu não lembro, mas acredito que não dói. A partir daquele momento estamos no mundo e o que nos ligava a nossa mãe é cortado. Mas esse é um corte simbólico, porque, quando tudo ocorre conforme o esperado logo voltamos aos braços de quem nos pariu e que é quem sempre vai tentar nos proteger de todo o mal custe o que custar, doa a quem doer. 
   Eu já relatei aqui em outro texto que custei para sentir que a Melissa era minha, mas hoje sinto como se ela fosse um dos meus pulmões ou o meu coração, eu preciso dela, ela é um pequeno e lindo pedaço meu no mundo. Pra mim o verdadeiro corte do cordão umbilical é a separação física entre mãe e filho. Eu fui só da minha filha durante seis meses, 24 horas por dia, todas as noites sem intervalo, mas tá chegando a hora de voltar a trabalhar, e passaremos mais horas por dia separadas e meu Deus, como dói pensar nisso. 
   Dói ver os filhos crescerem, posso afirmar que dói mais do que qualquer dor que um parto possa causar. É uma dor que fere mas que cura porque crescer é preciso. Nem todo mundo tem a sorte de ter uma mãe, alguns nem conhecem a própria mãe, outros são deixados por ela, alguns outros tem pouco tempo de convivência quando vivem a dor da separação. Eu sinto falta do meu trabalho, de fazer o que eu amo, de honrar a vaga que eu tanto lutei para conquistar, vai me fazer bem voltar, mas vai doer também. Vai doer não ser só da minha pequena e imaginar que ela pode pensar que eu não quero mais estar com ela. 
   Agora ela estará no mundo, apesar de eu ter total confiança tanto nas pessoas que ficarão com ela quanto na escola que escolhemos pra ela aprender e evoluir eu nem sempre vou poder proteger ela de algumas coisas e são coisas necessárias para que ela cresça e aprenda. Ela vai levar unhada de outra criança, ela vai ralar o joelho, vai ser picada por algum bicho, vai sentir saudade, vai passar mal com alguma comida e nada, absolutamente nada disso poderia ser evitado ainda que eu decidisse viver 24 horas grudada nela, mas tudo isso vai doer mais em mim do que nela. 
   Eu não vou estar lá mas eu sempre vou estar lá, uma mãe nunca se ausenta completamente, ela vai ficar junto com o meu coração. Ela logo vai começar a andar, vai ter vontades diferentes de tudo o que eu sonhei pra ela e talvez ela me cobre por alguns momentos em que eu estive ausente. A partir de janeiro nós teremos um imenso e novo desafio, precisaremos entender que somos uma da outra e sempre seremos mas algumas vezes a separação vai se fazer necessária e vai nos ajudar a crescer. 
   É por ti minha filha, é por nós e ainda que esteja doendo lá no fundo da alma eu sei que isso é o melhor. Vou me reencontrar, vou ali conversar com aquela mulher que não tinha filho e tinha somente sonhos, vou pedir que ela ajude a mãe que eu me tornei a ser cada dia melhor e me ajude a nunca esquecer que ela existe e precisa ser cuidada de vez em quando. Eu adoro desafios e vou começar 2017 com o maior deles até hoje, estar longe de um pequeno pedaço que saiu de mim e tem me ensinado tanto há quase seis meses. Que venha o novo ano, os novos desafios, a nossa nova realidade e que acima de tudo o amor prevalesça. Cortar o cordão umbilical dói mas também dignifica e ajuda a crescer. 

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

"Sou dela, sem ela não sou"

   


   Eu não sei bem se algum dia tive alguma pretensão com esse blog, mas hoje eu tenho. Hoje eu escrevo para que a minha filha saiba o que eu senti desde que soube da existência dela. Eu não quis ser mãe, por muito tempo eu não quis. Precisei perder a minha avó para sentir que eu precisava preservar esse imenso amor e precisava ter para quem ensinar sobre amor. 
   Desculpa filha, eu não tinha noção do que eu tava me privando. Quando me vi mãe da Amy, a minha primeira filha de quatro patas a mãe adormecida que vivia em mim foi aos poucos despertando. Há quem diga que são amores incomparáveis, eu afirmo que são muito semelhantes. Hoje eu mataria e morreria tanto pela Amy quanto pela Melissa. 
   Eu não te amei desde que li aquele positivo filha. Desculpa, mas aquele resultado me causou mais medo do que amor. Eu sentei no sofá olhei pra Amy e chorei. Chorei porque pensei: "Quem sou eu para ser responsável por outra vida?" Chorei de medo, felicidade, insegurança. A ficha não caiu ali, eu não amei naquele dia. Semanas depois no nosso primeiro encontro através de uma tela eu ainda também desconhecia o amor que seria capaz de sentir e foi assim por muito tempo. A barriga crescia, eu estava me transformando mas não tinha dimensão do quão melhor e mais eu poderia ser. 
   Tu nasceu e eu chorei. Tu te apressou e nasceu antes do tempo e o meu medo era não ouvir o teu choro, mas tu chorou alto e forte e as lágrimas escorreram. A doutora te mostrou pra mim com a pressa de quem precisa levar o paciente para a UTI e eu só soube dizer: "Ela nasceu roxa como eu." Disse isso e imaginei o que a minha mãe deve ter sentido quando me viu pela primeira vez. No outro dia eu te vi dentro de uma encubadora e eu ainda não te sentia minha. Os dias se passaram e no dia 17 de julho quando eu te dei o primeiro colo eu chorei (tu tem uma mãe tão durona quando chorona) e eu talvez tenha entendido um pouco da difícil missão que me foi confiada. 
   Hoje tu tá quase completando 5 meses e nós estamos nos entendendo muito melhor. Eu já sei que tu chora de sono, eu entendo que tu quer colo a toda hora, eu me derreto com o teu sorriso. Eu nem queria amamentar e hoje eu acho que é tu quem vai cortar esse nosso vínculo. Eu me rendi minha filha. Eu me rendi ao teu amor. Eu me rendi as lições que tu me ensina todos os dias incansavelmente. Eu já entendi que talvez eu mais aprenda do que ensine. 
   Eu me sinto completamente entregue a um amor que eu desconhecia, eu só sabia que lindo era ser filha de uma mãe espetacular mas eu não imaginava como podia ser mágico ser mãe. Eu "mordo a língua" todo o santo dia, me pego fazendo o que eu julgava, me pego fazendo planos que eu condenaria há meses atrás, me flagro rindo sozinha e chorando também. É um cansaço compensador, é um amor que transcende, é o melhor que eu posso ser e que me faz descobrir que o melhor ainda está por vir. Obrigada filha, obrigada por ter me escolhido, obrigada por ser tão minha e me falar tanto sem ao menos dizer uma única palavra. Hoje eu sou puro amor e se erro é na tentativa de ser mais, de ser melhor, de ser a mãe que eu tenho e a quem sou grata por chamar de minha. Vivo todos os dias para que sejamos grandes amigas e mesmo quando tudo parecer ter fim saibamos que temos uma a outra e nada mais importa. 

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Muito amor pelos apressadinhos, muita admiração pelos pais

   



   Amanhã, 17 de novembro, é o dia mundial da prematuridade, assunto sobre o qual eu pouco ou quase nada entendia até virar uma mãe de prematuro. Já relatei aqui no blog como foi o nascimento da Melissa e quer saber?! Foi muito tranquilo perto de tantos relatos e tantas histórias que tenho acompanhado.
   Um mês antes da Melissa nascer eu fui fazer uma matéria sobre o Banco de Leite da Santa Casa e conheci a história de uma menininha que nasceu com 600 gramas. A luta dela pela vida me comoveu, a força da mãe dela me impressionou. Quando a minha filha virou paciente eu tive a certeza que Deus não dá fardo maior do que a gente possa carregar. Ela só teve pressa de nascer mas nasceu cheia de saúde e ficou pouco tempo com ajuda pra respirar ela basicamente só precisava ganhar peso mas essa é uma luta cansativa porque tem dias que eles ganham 20 gramas, em outros perdem 10, logo ganham 30 e assim a gente vai indo, comemorando cada grama adquirida e chorando cada grama perdida. 
   Em 12 dias que a minha filha passou na UTI conheci bebês que ninguém sabia se iam sair dali com vida, soube de alguns que viveram apenas algumas horas, vi pais chorarem a perda dos filhos que cansaram de lutar pela vida mas também soube dos que nasceram com poucas gramas e contrariaram as expectativas até dos médicos tendo se superado a cada dia até o dia da tão sonhada alta. Na verdade eu posso dizer que estivemos na UTI a passeio porque graças a Deus além do peso, a Melissa não nos causou mais nenhuma preocupação. 
   É angustiante entrar no hospital com o bebê na barriga e ir pra casa sem o filho nos braços, pode ser desesperador a cada vez que não podemos entrar na UTI porque algum procedimento está sendo feito em algum daqueles mini pacientes. A minha filha não É prematura, ela FOI prematura. Mas essa experiência me fez ter ainda mais amor por esses pequenos apressadinhos que na pressa de nascer já nascem lutando pela vida e muita admiração e carinho por cada pai e mãe que vive dias ou até meses dentro da UTI se alimentando de boas notícias e mantendo a chama da fé sempre acesa para que o dia de amanhã seja melhor do que o de hoje até que a sonhada despedida do hospital aconteça. 
   Um em cada 10 bebês são prematuros e eles de fato são especialmente especiais. Sabe o que eu acho? Que eles sentem a força do amor que os espera aqui fora e querem logo sentir tanto carinho. Vou ser eternamente grata a cada profissional que deixa a família e os próprios filhos em casa pra cuidar dos filhos dos outros com todo o amor e dedicação. Tenho muito amor pelos apressadinhos e vou ter sempre muita admiração e carinho por cada pai e mãe que vive a rotina de uma UTI Neonatal. 
   
   
   

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Sobre escolher com amor

   


   Escolhas nunca são fáceis. Desde escolher a roupa para vestir até escolher a profissão, qualquer tipo de escolha é muito difícil. Eu achava isso, daí adotei uma cadelinha e descobri que escolher por alguém que não sabe falar é ainda mais difícil e por vezes doloroso. Eu tive que escolher sobre castrar ou não a Amy sem poder considerar a opinião dela, eu escolho absolutamente tudo por ela e só espero que esteja acertando e fazendo ela feliz. 
   Depois que eu virei mãe de gente, a mãe da Melissa, tive que de novo escolher por alguém que ainda não sabe opinar. Ainda que ela tenha de alguma maneira escolhido o dia que nasceu eu já tive e ainda vou ter que fazer outras muitas escolhas por ela e corro o sério risco de errar e ter o meu erro jogado na cara pro resto da vida. Nos isentamos de escolher padrinhos na tentativa de um erro a menos. Tem tanta gente que reclama dos padrinhos, eu confesso que reclamo dos meus e os do pai dela eu em 9 anos de namoro nem conheço.
   Eu fui um pouco covarde porque além de tudo não saberia escolher, entre tantos amigos maravilhosos que tenho, alguém para ter destaque na vida da minha filha. Eu também não acho certo ir em um domingo cedo pra igreja católica ouvir coisas nas quais não acredito, deixar que um padre molhe a cabeça dela e depois nunca mais levar ela lá ou então só levar nas duas únicas vezes em que volto lá que é no dia de Santo Antônio e no de Nossa Senhora Aparecida. Eu não vou negar que ela tenha padrinhos, nem que tenha uma religião, apenas quero permitir que ela escolha e entenda o peso que tem uma escolha na nossa vida. Se os padrinhos escolhidos por ela faltarem ela terá total autonomia para cobrar e se a religião que ela escolher a decepcionar ela entenderá que nem sempre na vida a gente acerta. 
   Está chegando a hora de escolher uma escola aonde ela vai estar enquanto eu e o pai dela vamos trabalhar e que peso tem essa escolha. Escola municipal? Escola particular? O que analisar em uma escola? Será que alguém além de mim saberá cuidar tão bem dela? Eu sou muito desapegada e quero criar ela com um único vínculo de amor mas com total liberdade de ser, de ir e de vir dentro dos limites que a nossa relação precisará ter mas eu nunca precisei ser tão responsável na vida quanto estou tendo que ser ao escolher a quem confiar o bem mais precioso que eu tenho na vida. 
   Escolher pra mim é difícil, pra quem eu mais amo no mundo é muito mais pesado. E se eu errar? E se por culpa de um erro meu ela tiver traumas eternos? Nunca o medo de errar foi tão presente na minha vida. O que é bom pra mim pode ser péssimo pra ela. O que alivia o meu coração é que eu vou escolher com e por amor e nenhum erro no mundo é tão perdoável quanto o erro de uma mãe que sempre vai errar na tentativa de acertar. Que o Espírito Santo me ilumine e seja a escolha que for, que ela seja sempre feita com o mais puro amor. 

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

O melhor baú de memórias

 


   Fui abraçar uma amiga que perdeu a mãe, estávamos conversando e ela visivelmente abalada, e não poderia ser diferente, porque perder a mãe em qualquer idade é um caos, me disse: "-Tu vê só, agora estou órfã de pai e mãe. Era ela que tinha as memórias da minha vida, muita coisa que eu vivi eu não lembro mas ela lembrava de tudo. Enterrando ela eu enterro parte da minha história." Essa reflexão fez todo o sentido e me fez dar ainda mais valor para as mães e para o meu papel como mãe. Com certeza ninguém lembra do dia do nascimento e dos primeiros meses de vida e raríssimas são as pessoas que lembram com clareza boa parte da própria infância mas as mães lembram cada detalhe da vida dos filhos. 
   As mães sempre acham, sabem e lembram tudo ou quase tudo. Mães tem um espaço infinito de memória e por isso são sempre uma perda irreparável. Eu adoro ouvir a minha mãe falar sobre o quanto eu demonstrava ter personalidade forte desde muito cedo, quando aos dois anos escolhia as roupas que ia vestir. Certa vez estacionamos o carro em frente a uma casa e eu disse: "-Que engraçado eu tenho uma sensação de que já estive nessa casa." E a minha mãe respondeu: "-E tu tá certa, a tua avó morou aqui e tu brincava nesse portal." Se não fosse a minha mãe talvez eu nunca soubesse que a minha sensação fazia sentido. 
   Uma manhã dessas eu acordei e fiquei olhando pra Melissa tentando imaginar o que ela vai ser, do que vai gostar, se vamos bater muito de frente, e ao mesmo tempo eternizei na memória aquele momento, aqueles olhinhos ainda perdidos, os sorrisinhos ainda involuntários, o cheirinho de azedo e até o choro. Mais do que em fotos e vídeos eu quero eternizar no coração cada detalhe da vida dela. Quero que, quando ela tiver curiosidade eu possa contar com riqueza de detalhes momentos importantes da vida dela. 
   Quando a minha avó se foi eu tive a sensação de que uma parte minha estava indo junto, e de fato foi, foram com ela algumas das minhas memórias, das importantes partes da minha história. Tem muita gente que eu amo nessa vida, mas é indiscutível a importância da minha mãe e da minha avó materna em quem eu sou hoje. Eu quero ser pra minha filha a mãe maravilhosa que eu tenho, de todas as coisas que eu possa ser, que o papel de mãe seja o mais impecável e eu de fato seja um baú de memórias, um feliz baú das mais lindas memórias da minha menina. 
   Preciso concordar com o gênio que sugeriu que as mães deveriam ser eternas, mas já que isso é impossível, que possamos ter longas e maravilhosas conversas com as nossas mães ou com os nossos filhos. Mais do que olhar um álbum de fotografias desejo que possamos olhar nos olhos do melhor baú de memórias que temos na vida, que possamos ter ouvidos atentos para as melhores histórias de quem indiscutivelmente mais nos ama. Cada mãe carrega no coração a mais linda biografia de cada filho que lhe é confiado, abençoadas sejam as melhores guardiãs das melhores histórias. 
   

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Ela nasceu e eu renasci

   


   Era pra ser em agosto. Era pra ter data marcada. Era ser planejado. Mas não foi. Seria uma terça-feira qualquer em que eu acordaria cedo, tomaria banho e iria trabalhar o dia todo, mas não foi exatamente assim. Teria sido uma terça-feira de muitas pautas com a manhã light e a tarde corrida, mas não foi. 
   Naquela terça-feira, 12 de julho, eu de fato levantei cedo e tomei banho, mas algo estranho estava acontecendo e eu não sabia precisar, perceber ou explicar o que era. A manhã de fato foi light e eu apenas combinei detalhes das pautas da tarde com os colegas, jogamos um pouco de conversa fora e tive tempo de sobra até de tomar mate enquanto eu sentia contrações mas que, a princípio, não seria nada anormal para as 34 semanas e 3 dias de gestação. Ao final da manhã as contrações ganharam a companhia de uma dor que, opa, não parecia nada normal. 
   Assim que consegui contatar o meu médico ele me mandou ao consultório e de lá fui para o hospital pois eu estava com pouco líquido e o colo do útero "apagado". "Tu vai ser internada e até sexta-feira ela nasce." Essa frase mudou completamente os planos e me provou mais uma vez que muitas vezes eu vou perder o controle das coisas, eu vou perder o controle da minha própria vida. A tarde que seria de trabalho foi de soro na veia, de injeções, de exames e de um turbilhão de sentimentos. Até sexta ela nasceria, mas era pra agosto, era pra ser leonina, era pra ser tudo organizado, era pra eu entrar no hospital com malas e expectativas mas eu estava lá só com a roupa do corpo e muito medo. 
   Se é nos piores momentos que sabemos com quem contar eu posso afirmar que sou milionária no quesito amigos. Enquanto eu encarava a solidão do bloco obstétrico a notícia se espalhou, duas das minhas amigas mais prestativas e agilizadas, a prima que a vida deveria ter me mandado como irmã e a minha mãe correram pra providenciar as minhas roupas, a mala do bebê, as lembrancinhas (sim, elas pensaram até no que eu nem com tempo extra teria conseguido organizar), além do colo que elas sabiam que eu precisaria e não saberia pedir e do apoio que se faria tão essencial com o desenrolar dos fatos. O meu parceiro da vida, o pai da nossa Mel foi igualmente incansável e apesar dos olhos arregalados soube tentar disfarçar o nervosismo do susto que estávamos tendo. O celular tocou, as mensagens chegaram bem como as visitas e eu nos senti amadas, e eu fui inundada por muita coragem e pela certeza de que tudo daria certo. 
   A madrugada de terça pra quarta foi de dor, de muitas idas ao banheiro e de pouquíssimo sono. O amanhecer do dia 13, dia mundial do rock, foi de incerteza e de mais exames. Não seria aquele dia, o médico havia constatado que poderíamos esperar até sexta, ok, que seja então, apesar da dor e de sentir que nada estava bem eu teria que esperar. No intervalo do almoço uma grande amiga, uma quase irmã, foi me visitar e amarrou no meu pulso uma fitinha de Santo Antônio, aliás, era o dia dele, todo dia 13 é dele e a partir de então seria da minha Melissa também. Logo depois o "tampão" caiu e eu liguei pro médico que disse: "Então vamos fazer a cesárea hoje a tardinha." 
   Entre "até sexta ela nasce" e "ela vai nascer hoje" eu só tinha a certeza que ela tinha que nascer logo, ela não tava mais bem dentro de mim, mas ela nasceria de 34 semanas e estando com restrição de crescimento, então, era tudo incerto e a única certeza que eu tinha é de que encararíamos a UTI Neonatal mas a fé me fez sentir que tudo daria certo e seria só questão de tempo e ela estaria conosco. Não foi em agosto, foi em julho. Não foi leonina, é canceriana. Não foi de 38 a 40 semanas, foi com 34. Não foi conforme planejado, foi "a moda louco". 
   O dia 13 de julho jamais será o mesmo, mais do que dia do rock, mais do que dia de Santo Antônio, agora é o dia da Melissa, da nossa apressada Melissa. Depois da preparação, da anestesia e de ter todas as devidas camadas cortadas eram 19:20 quando ouvimos pela primeira vez o choro que mudaria o resto das nossas vidas, o choro que selaria para sempre o nosso elo de ligação, o choro que eu tive medo de não ouvir pelo tempo de gestação, mas ela chorou, eu também chorei, ela nasceu e eu renasci. Ela de fato foi pra UTI e eu só pude tocar ela com a ponta dos dedos, ela era minúscula e absurdamente linda. Ela tinha apenas 43 centímetros e 2030kg do mais puro amor que eu já tinha sido capaz de sentir. 
   No dia 17 de julho eu segurei ela nos braços pela primeira vez e eu chorei de novo, de emoção, de alegria, de medo porque eu sou tudo o que ela precisa por enquanto, eu produzo o alimento dela, eu sou o melhor colo que ela pode ganhar, eu sou o porto seguro dela, é minha a voz que ela é mais acostumada, é o meu cheiro que é capaz de acalmar ela, eu sou mãe, eu sou o que por muito tempo eu não sabia se queria ser mas agora eu apenas sou. Durante os 12 dias que ela teve que ficar na UTI eu tive uma força e uma fé que eu jamais imaginaria ter em qualquer outra situação. Eu fui forte por ela, eu me doei pra ela, eu esqueci que tinha um mundo aqui fora e me entreguei de corpo e alma pra cada segundo que me era concedido junto dela. 
   Ser capaz de gerar, ver crescer e parir uma vida foi sem dúvidas a experiência mais intensa e inesquecível da minha vida. Ela nasceu e eu renasci, eu me vi virar leoa, me vi ser absurdamente corajosa, me vi não me importando comigo e colocando alguém acima de absolutamente tudo e todos. Foi tão intenso que ainda parece sonho, o melhor dos sonhos, daqueles que a gente deseja nunca mais acordar. Eu ainda me pego olhando pra ela besta de amor, encantada como eu posso amar tanto a ponto de humanizar o amor. Ser mãe é tudo isso o que falam por aí e muito mais, é cansativo mas gratificante e graças a Deus esse é só o primeiro mês da maior jornada da minha vida. 
   
   

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Hoje o amor nasceu em dobro

   


   Hoje o amor nasceu. O amor nasce todos os dias mas hoje ele nasceu em dobro. Cada vez que nasce uma criança nasce também o amor. Hoje nasceram dois amores de uma só vez. Hoje eu senti a amizade se multiplicar e tomar uma dimensão ainda maior. Hoje nasceram duas pequenas e indefesas meninas que não fazem ideia do quanto são amadas e esperadas. Maitê e Sara foram um pouco geradas no meu coração porque são filhas de uma grande amiga com quem eu tive a graça de dividir esse mágico momento que é a gravidez. 
   Elas ficaram 34 semanas no ventre e mostrando desde já que são cheias de personalidade decidiram que era a hora de encarar e desbravar o mundo. Eu senti que elas existiam quando eram ainda um segredo, eu vi elas crescerem, nós dividimos as angústias, as incertezas, as maravilhas da maternidade. 
   Depois de dividirmos segredos, copos de bebidas, de nos darmos colo, de crescermos juntas viramos mães de meninas praticamente ao mesmo tempo. Nós temos tantos planos e tantos sonhos pra elas, temos tantos desejos, queremos poder protegê-las dos males do mundo e oferecer um mundo de maravilhas e aprendizado. Queremos que elas cresçam conhecendo a força da amizade e a magia do amor. 
   Enquanto eu escrevo sinto a Melissa mexer e digo pra ela que desejo que elas se amem e que quando se odiarem seja por minutos e o ódio passageiro acabe em abraço e em um pedido de desculpas. De todas as heranças que pretendo deixar pra minha filha nenhuma é material e a principal delas são os laços de amizade que tento construir ao longo da vida, quero que ela encontre nos meus amigos e nos filhos deles segurança, conforto, certezas e verdade. 
   Em um mundo tão fútil e de relações tão vazias eu tenho certeza que a Sara e a Maitê tiveram pressa de vir porque sabiam que aqui tinha muito amor, amizade e sentimentos verdadeiros esperando por elas. Hoje a nossa Cúpula cresceu, essas duas meninas chegaram pra nos lembrar que o amor se renova, pra nos certificar que os laços se estreitam, pra que nós nunca esqueçamos que a nossa amizade foi construída sobre a rocha e por isso não quebra e não entorta nem diante da distância e das piores tempestades. 
   Eu ainda não conheci as pequenas Maitê e Sara, mas eu já amo elas e sinto que elas são como um arco-íris que surge lembrando que o pote de ouro existe e está dentro de cada um de nós. Elas são sol, amor, são tudo de mais lindo o que possa existir. 15 de junho será pra sempre dia de festa. Sejam bem-vindas ao mundo, sejam felizes pequenas, lindas e amadas meninas.