sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Gente que vale a pena

   


   Entre tantas espécies em extinção encontra-se a espécie: gente que vale a pena. Tem gente que tem cheiro de dia feliz, gente que olha no olho, que tem cheirinho de chuva, são coloridos como o arco-íris, tem a segurança de um abraço apertado, a confiança de andar de mãos dadas, gente que quando chega parece uma caixinha de música aberta tocando a nossa melodia preferida. Sim, ainda há quem valha a pena, quem comemore as nossas conquistas como se fossem suas, que chore as nossas derrotas sem que saibamos e não nos deixam desanimar, fracassar, cair, há quem sempre tenha a mão estendida, que empresta o ombro pra chorar, que coloca a própria dor no bolso e corre pra nos ajudar. 
   O mundo está perverso, os valores estão perdidos, mas entre tantos que puxam o tapete há quem construa um chão pra nos sentirmos seguros, quem responda o ódio com amor, quem escute mil vezes a mesma história quando parece que isso ajuda a curar a dor, quem tente nos ajudar a entender o que parece não ter explicação. Pessoas simples de coração, grandes de alma, cheias de amor. Ainda há quem queira o nosso bem, a nossa felicidade, que nos queira ver sorrir, amar. Há quem nos ajude a achar solução, a acabar com a solidão, a encher de paz o coração. São essas pessoas que valem a pena, são essas que tem que valer, essas sempre prevalecerão e pouco a pouco e no final das contas elas é que ficam, permanecem, sentam ao nosso lado e escutam pela milésima vez a mesma história e riem e choram como se fosse a primeira. Que eu tenha sempre elas por perto, do lado esquerdo, guardadas a sete chaves.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

50 tons de indignidade

   


   Sou uma amante de livros, uma rata de biblioteca, desde sempre ler é uma das coisas que eu mais gosto de fazer e ao mesmo tempo sempre fui atrasada na moda. Tudo que está em alta, o que todo mundo usa, o filme que todo mundo vê, o livro que todo mundo lê nunca me atrai, sei lá, acho que eu nasci para ser do contra, pois bem, passado um tempo e passada a febre eu até começo a rever a moda por outro ângulo e ela muitas vezes até me ganha. Assim aconteceu com a saga Crepúsculo que eu só assisti o primeiro filme depois que o segundo já tinha sido lançado, assim foi com o sneaker que eu só comprei depois que já estava em promoção, enfim, deu pra entender, neh?! Pois bem, passada um pouco  febre e a loucura das mulheres pela "trilogia dos 50 tons", e apesar de, por tudo o que havia ouvido a respeito, saber que não me agradaria, eu comecei a tentar ler 50 tons de cinza. Primeiro capítulo: ok vou continuar, segundo capítulo confesso que cheguei a pensar que a história iria me ganhar, mas a partir do terceiro capítulo o desinteresse venceu e eu tô lutando pra tentar acabar.
   O que eu me pergunto todos os dias é: Como que em pleno século XXI as mulheres aceitaram uma história de um homem que domina uma mulher? Foi tanta luta, tanta guerra, tanta dor, tanto sofrimento para que as mulheres conseguissem espaço na sociedade, para que as mulheres tivessem vez e voz e agora uma publicação lamentável dessas vira best seller?! Sinceramente eu penso que sou uma das poucas mulheres que comemora a liberdade, que busca ter apenas relações que libertem, que deem asas, que proporcionem voos cada vez mais altos. Desculpem queridas mulheres mas ver a maioria de vocês encantadas com um absurdo literário desses ao qual eu me atrevo a chamar de literatura pornô de baixo calão me faz pensar o pior de vocês, me faz pensar que vocês deveriam ter nascido há alguns séculos e de vocês, 2013 não merecia nem as cinzas. O pornô nem é a pior parte do livro, aliás, se homens podem ter coleção de revistas pornôs, crescer aprendendo a ter prazer com filmes pornôs, isso dá o mesmo direito às mulheres. O pior de tudo, é se encantar com uma história de uma mulher que se submete a um homem, que se deixa ser comandada, maltratada, mal amada. 
   Anastasia (a personagem principal do livro) é a personificação literária da falta de amor próprio, da falta de respeito consigo mesmo, da necessidade de ter alguém para não estar sozinha e ainda assim fingir que é feliz. Eu já escrevi aqui e repito: amor não tem que aprisionar, amor tem que libertar. Uma pena que eu veja tantas Anastasias por aí, que além de idolatrarem os tons de cinza em que o maléfico Sr. Grey transforma em um inferno a vida daquela que ele escolheu como escrava, se prestam a viver histórias assim (um pouco menos intensas e com menos judiarias sexuais) na vida real. 
   Apesar de eu já ter sido chamada de machista aqui, nesse próprio blog, apenas por pensar que mulher tem sim que ter uma certa postura apesar de toda a maravilhosa liberdade que temos, eu não sou a favor do machismo. A única coisa, na minha opinião, realmente inaceitável em uma mulher é vê-la retroceder, se submeter a qualquer coisa pelo o que ela chama de amor, abrir mão de quem e do que gosta porque o outro assim quer, mudar o estilo, o cabelo, largar o emprego, se afastar da família e dos amigos porque alguém decidiu que pode mandar na vida dela. Mulheres que se submetem as vontades dos homens, talvez nem percebam, mas são mulheres visivelmente tristes, apagadas, perdem o brilho no olhar, perdem a beleza do viver e realmente passam a representar 50 tons de cinza perdendo todo o colorido que o amor deve acrescentar na vida.
   Eu não li todo o livro, mas já li o suficiente para ter uma opinião e ter falta de vontade de sobra para continuar lendo, talvez eu nunca acabe esse livro, e assim jamais entenderei quem conseguiu ler a trilogia, mas como gosto é gosto nem cabe a mim tentar entender. Acho muito atraso idolatrar um livro tão machista, tão violento, que coloca a mulher como objeto, que faz a mulher voltar para uma época em que não tinha valor algum e só servia para procriar. Lembrando que essa é a minha análise e a minha opinião sobre a "obra" (me dói chamar assim) que eu comecei a ler para poder opinar e a qual talvez eu nunca consiga acabar por pura indignação. Enquanto tantas mulheres lutam para se livrar da violência que sofrem todos os dias, outras tantas se submetem por livre escolha a viver um "amor violento". Lamentável.