sexta-feira, 6 de maio de 2016

Um dia das mães de ausência e presença

   

   Domingo é dia das mães. O primeiro dia das mães sem a minha avó, que foi duas, três, infinitas vezes minha mãe. Se tem algo que eu tenho de sobra é amor de mãe, porque, além de ter uma mãe exemplar tive uma avó que soube dosar amor e disciplina e se tornou essencial na minha vida. Mas não será um domingo marcado apenas pela ausência, também será de presença, a presença de um amor que cresce em meu ventre, a presença de uma experiência que por tanto tempo eu neguei e há tão pouco consegui me entregar de corpo e alma. 
   Não é o meu primeiro dia das mães, é o terceiro, porque há três anos a Amy chegou me tornando mãe. De lá pra cá foram inúmeras noites em claro quando ela tava doente, foram inúmeras vezes em que tive que tomar alguma decisão difícil por ela e todas as vezes me questionei se tinha feito a escolha certa. As lambidas dela me fazem mais feliz, as horas que precisamos estar distantes quase me matam de saudade, meu coração fica apertado de medo quando penso sobre qualquer coisa ruim que possa acontecer com ela. Eu tenho certeza que foi a Amy que me tornou mãe e é graças a ela que estou me animando a ver a barriga crescer e o coração se inundar de ainda mais amor. 
   A minha mãe escolheu como profissão ser mãe e eu afirmo sem medo que ela é uma profissional exemplar no assunto maternidade. Ela nunca tirou férias, folga, e pouquíssimas vezes vi ela reclamar das mais variadas e difíceis funções que teve que exercer. Ela sempre dosou a doçura e a disciplina, o amor e o limite e mesmo quando se viu sozinha cumprindo a missão que nunca foi fácil ela foi incansável na profissão pra qual ela sempre teve total aptidão. Se eu souber ser metade do que ela foi pra mim já me sentirei no caminho certo. 
   A minha avó soube ser tão mãe quanto a minha mãe. Ela sempre me deu amor com limite e tendo também exercido a profissão de mãe me ensinou inúmeras e inesquecíveis lições de vida. Depois de 30 anos vivendo juntas estou tendo que aprender a lidar com a dor da saudade. É o primeiro dia das mães sem o abraço, o beijo, sem as piadas que estavam sempre na ponta da língua. É difícil programar esse dia sem os planos dela, sem ter as receitas especiais no cardápio, sem as sobremesas de vó que eu nunca mais vou sentir o gosto. É duro viver um domingo de mães com parte de imensa felicidade e outra parte preenchida pela saudade. 
   O amor da minha avó é tão lindo e imenso que ela se foi e não deixou eu me perder em meio ao vazio, ela virou uma estrela de saudade mas me mandou uma estrelinha de amor, ela se foi e logo o amor germinou e está crescendo no meu ventre. Eu sinto como se ela tivesse me preparado por anos para essa missão e quando eu estava pronta ela partiu. Será que eu tava pronta? Será que estou? Será que consigo ser tão equilibrada quanto as minhas mães sempre foram comigo? Por sorte a minha vó partiu mas tenho a minha mãe ao meu lado, que aliás, está sendo tão incansável na missão de ser vó quanto é na missão de ser mãe. 
   Que a saudade não doa tanto e seja curada pelo imenso amor que temos, que a ausência seja preenchida pela presença das mais doces lembranças, que eu saiba ser uma mãe que encha de orgulho as minhas duas mães, que a minha Melissa entenda que sempre que eu errar vai ser na intenção de acertar, que ela sinta que o meu amor por ela é capaz de qualquer loucura. Que seja um dia feliz pra quem vive a ausência e a presença, pra quem vive o medo e a certeza, a dor e a alegria. Todo mundo merece ter uma ou mais de uma mãe que faça com que esse dia seja pra sempre especial.