domingo, 21 de abril de 2013

Naquele tempo

 


   Coisa de velho dizer: "no meu tempo..." mas hoje me vejo no auge dos meus 28 anos dizendo que no meu tempo respeitar pai e minha vinha de berço, ninguém precisava ensinar. Sou do tempo que criança não tinha querer, pouquíssimas se jogavam no chão porque queriam muito alguma coisa e caso isso acontecesse, castigos severos e palmadas doídas faziam com que o fato não mais se repetisse, crianças brincavam na rua de esconde esconde, pega pega, amarelinha, "mamãe quantos passos devo dar?", e eletrônicos não invadiram a nossa infância. Lembro de quando professores sempre tinham razão e notas baixas eram culpa exclusivamente dos alunos, fruto de irresponsabilidades e falta de estudo rendiam longos castigos e o encontro com os livros se tornava obrigatoriamente mais frequente. Vagamente lembro que filhos eram responsabilidade de mães e pais e raramente os avós interferiam na educação das crianças, ser mãe e pai naquele tempo dificilmente acontecia por descuido, e caso acontecesse, prontamente fossem jovens ou velhos, os pais cresciam e assumiam a responsabilidade. Casa de vó era lugar de passeio e restaurantes tinham crianças que ficavam sentadas e comportadas como adultos. 
   Eu ainda lembro que meninas saiam bem vestidas e a roupa tinha que ser aprovada pelo pai, reuniões dançantes tinham meninas de um lado e meninos de outro e quem tomava a iniciativa eram os meninos, elas normalmente eram tímidas. Meninas de 12 anos brincavam de boneca e dificilmente um "tio" se animava a perguntar "e os namorados?" para alguém com menos de 15 anos. Foi naquele tempo que mulher trabalhar fora de casa virou algo normal e elas foram aos poucos conquistando a independência que hoje eu agradeço por ter.    
   Tinha muita coisa legal naquele tempo, tudo era tão diferente, as pessoas pareciam mais sinceras, mais humanas, mais solidárias. Eu não sei se o mundo cresceu demais, se tudo se banalizou demais, só sei que aquele tempo era melhor. Tinham coisas piores, é claro, mas no geral era melhor. Computador era coisa de rico e eram geringonças enormes que ocupavam um grande lugar na sala, mas isso fazia com que as pessoas visitassem mais, procurassem mais, escrevessem mais cartas. Como era a vida antes do google? Há quanto tempo eu não abro um dicionário? Há quanto tempo não chego de surpresa na casa de um amigo? Quantos abraços perdi por comentários fortes em redes sociais? De quantos amigos me reaproximei graças as redes sociais? É estranho, é dúbio, é bizarro pensar como tudo mudou, um pouco pra melhor, um pouco pra pior, muita evolução, um pouco regredimos. 
   Tenho observado tanta menina de polpa de fora e vestindo tão pouca vergonha na cara quanto roupa no corpo, tanto menino que usa o boné pra esconder que homem pode sim e deve amar só uma mulher e isso não torna ele um babaca, tanta criança que comanda a vida da mãe e do pai, tanto pai que solta o espermatozoide e dá no pé, tanta mãe que mata filho, filho que mata mãe e pai por dinheiro, tanta droga, tanta maldade, tanto roubo que chega a dar uma saudade de quando meu coração era inocente e eu não sabia, não queria ver e pensava que nem existia tanta coisa e gente ruim nesse mundão de Deus. 
   O Nando Reis cantou "o mundo é bão Sebastião..." e quer saber? Ele é mesmo, mas tem aqueles dias em que é difícil de ver, perceber, sentir tanta bondade que deve estar travestida de maldade. Tem dias que dói ser gente grande, que dói acreditar em gente ruim, hoje foi um deles, mas passa, vai passar, só precisava mesmo era desabafar. 

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